Formada sob a sombra de um oiti na praça da Bandeira, nas manhãs de sábado, sob sol a pino ao redor ou chuva, em frente ao Mercado de Arte Popular, a roda de capoeira estilo angola do mestre Cláudio atrai olhares dos transeuntes, que passam apressadamente numa das interseções mais movimentadas do centro de Feira de Santana.
Com a aproximação do meio-dia, a roda de capoeira abre espaço para outra roda, não menos importante e de grande impacto cultural e apelo social: a do tradicionalíssimo samba de roda. O som extraído dos atabaques, tambor, pandeiros e outros instrumentos de percussão passa a ser mais acelerado do ouvido para embalar os imaginários e imprevisíveis golpes de capoeira.
A música alegre passa a atrair, agora ainda mais pelos ouvidos, as pessoas que antes se voltavam e tinha os olhos para a ginga quase coreografada dos capoeiristas. Quase porque o improviso no jogo das pernas é principal característica desta luta marcial nascida e crescida nas senzalas e quilombos, que está ganhando a atenção do mundo.
A energia passada pelos músicos embala as canções simples, diretas, de versos fáceis e curtos, das canções que parecem ter saído das senzalas, contagia quem os vê. A percussão remete aos templos, aos terreiros. As canções são acompanhadas por palmas, batidas com as mãos abertas, que produzem um estalar diferente, mais seco, contagiante.
O som contagia quem assiste as performances de 'sambadores’ e ‘sambadeiras’. A música mexe com a alma e leva os pés a se movimentarem espontaneamente. É o aquecimento para entrar na roda e desafiar, olho no olho, alguém para a dança de passos curtos e rápidos;
É uma roda de samba d1emocrática e que funciona como se fosse um desafio entre duas pessoas. Dela participam pessoas de todas as idades, perfis e quem não sabe sambar como manda a competição.
Aos 745 anos, dona Maria da Paixão, que mora no Beira Riacho, disse que não aguentou a provocação das músicas e do som. Logo entrou na roda, fez o sinal da cruz e caiu no samba. “O samba mexe com a gente, seja de qualquer idade, porque é bom demais suar”. Terminou a sua participação suada e ao mesmo tempo contente. “Sábado, quem sabe, vou estar aqui”.
Quem entra nela mais parece estar em transe, dada a leveza dos movimentos, os sensuais requebros dos quadris e ombros, o gingado das pernas, mais a expressão facial que denota que o organismo está recebendo doses generosas de serotonina, o hormônio da felicidade, do prazer.
Êxtase é o estado no qual as pessoas entram ao sambar. “É uma coisa inexplicável. Apenas sei afirmar com precisão que é muito bom dançar, recebendo esta energia de todo mundo desta roda”, disse Verônica Catarina Reis, que disse ser assídua na festança dos sábados. “A próxima etapa é iniciar no esporte. Não vai demorar muito”, promete. Ver os desafios e os movimentos é bom para os olhos.
Por: Batista Cruz / https://www.facebook.com/batista.cruz.33
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